Pode
parecer piada, mas não é. Depois de tentar escrever esse texto milhares de
vezes (para abandoná-lo em seguida), finalmente reuni forças para seguir até o
fim.
Meu
objetivo é simples: desabafar. Tentar organizar meus sentimentos e pensamentos.
Sugestão do meu psicólogo, já que amo escrever. Só que não é fácil colocar
sentimentos conflitantes no papel. Antes de mais nada preciso deixar claro uma
coisa: não sou bipolar. Sou apenas um ser humano normal, com a capacidade de
mudar de opinião apesar de “ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Basicamente
uma metamorfose ambulante.
Minha
vida seguia normal, apesar da morte inesperada de familiares queridos. Quando finalmente
achei que estava superando o trauma dessas perdas, um exame comprovou uma
gravidez inesperada e indesejada. Sim. Por mis que eu queira ser mãe, não quero
que seja de qualquer jeito. Não sou casada, não tenho quem fique com o bebê,
tampouco tenho estabilidade financeira para sustentar uma criança. Não planejei,
não desejei, mas aconteceu. Passado o susto, hora de dividir o fardo com o
outro responsável: o pai. E uma longa discussão abalou o relacionamento estável
que tínhamos. Descobrimos que não só não queríamos, como não estávamos prontos
para isso. Pior, o que deveria nos unir, nos separou. A estabilidade foi para o
brejo, junto com o que havia de melhor em mim. Meu humor mudou. Minha cabeça
estava repleta de ideias loucas. Foram semanas terríveis. Intermináveis.
Confesso
que a única coisa que não passou pela minha cabeça foi o aborto. por questões
religiosas. Sou kardecista, acredito em reencarnação. Então abortar estava fora
de cogitação. O jeito era descobrir como incluir uma criança na vida que levo
atualmente...
Até
que finalmente cedi. Mandei o universo para um lugar florido. Juntei os cacos e
decidi seguir em frente. Afinal, não tenho 15 anos. A gravidez surgiu porque em
algum momento eu dei uma brecha. Então, de que adiantava reclamar e rejeitar? Precisava
aceitar e seguir adiante. Com os hormônios a mil e o humor do Drácula, comecei
a me afastar do mundo e a mergulhar de cabeça nessa nova fase. Virei a
antissocial das redes sociais e devorei blogs e mais blogs sobre gravidez.
E,
quando eu menos esperava, sofri um aborto espontâneo. Sério. Pode parecer
mentira, mas não é. E eu que já tenho tendência a depressão, mergulhei fundo no
sentimento de culpa. Afinal, como não me sentir culpada? Eu rejeitei a criança
desde o princípio. Natural que após absorver tanta energia negativa minha ela também
me rejeitasse e desistisse de nascer. Se eu tivesse aceitado tudo desde o
princípio... Se eu fosse mais forte... Se eu não tivesse surtado... Mas eu
surtei. Pela segunda vez, em poucos meses.
A
depressão é algo banal para alguns. Frescura para outros. Só quem passa por isso
sabe o peso que ela impõe. Faço tratamento psicológico. Falo sobre tudo. O mais
difícil é confrontar seus próprios medos, pensamentos, sentimentos... É
descobrir o lado negro que há dentro de nós. A vantagem é que mesmo mergulhando
nas trevas existe a luz. Mesmo tendo tanta coisa ruim dentro de nós também
existem coisas boas.
Aos
poucos estou conseguindo me libertar. Ainda estou lutando contra a depressão. É
uma batalha diária. Tenho dias bons. Outros ruins. Tem dia que preciso me
isolar para não magoar os outros. Difícil fazer isso no trabalho. Exige de mim
um controle absurdo. Como quem convive sabe que estou num processo lento de
recuperação, acabo recebendo a compreensão e o apoio de que necessito.
Não
acho que a minha dor seja maior que a de outras pessoas. Acredito até que passei
por uma experiência comum a tantas mulheres. Só que não nos cabe julgar a dor
dos outros. Cada um sabe o que sente. E como certas coisas afetam nossas vidas.
Não sou melhor nem pior. Sou um ser humano, que ri, chora, sofre e batalha para
superar as dificuldades.
A
vida nos coloca na posição em que devemos estar. Diante de obstáculos que
podemos superar. Com dores que conseguimos suportar. Difícil é ter fé e
acreditar que tudo acontece para nosso bem, para nosso amadurecimento e
crescimento pessoal.
Sei
que tudo o que escrevi é tolo, ingênuo, idiota, infantil... Pouco me importa. Eu
precisava colocar tudo no papel. Organizar fatos, ideias, sentimentos. Me afastar
do problema. Olhar e perceber o quadro maior. Descobrir o que ainda me
incomoda. O que preciso mudar em mim. O que ainda falta aceitar. E me preparar
para a fase seguinte do tratamento.
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