sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Justificando o injustificável



                Pode parecer piada, mas não é. Depois de tentar escrever esse texto milhares de vezes (para abandoná-lo em seguida), finalmente reuni forças para seguir até o fim.
                Meu objetivo é simples: desabafar. Tentar organizar meus sentimentos e pensamentos. Sugestão do meu psicólogo, já que amo escrever. Só que não é fácil colocar sentimentos conflitantes no papel. Antes de mais nada preciso deixar claro uma coisa: não sou bipolar. Sou apenas um ser humano normal, com a capacidade de mudar de opinião apesar de “ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Basicamente uma metamorfose ambulante.
                Minha vida seguia normal, apesar da morte inesperada de familiares queridos. Quando finalmente achei que estava superando o trauma dessas perdas, um exame comprovou uma gravidez inesperada e indesejada. Sim. Por mis que eu queira ser mãe, não quero que seja de qualquer jeito. Não sou casada, não tenho quem fique com o bebê, tampouco tenho estabilidade financeira para sustentar uma criança. Não planejei, não desejei, mas aconteceu. Passado o susto, hora de dividir o fardo com o outro responsável: o pai. E uma longa discussão abalou o relacionamento estável que tínhamos. Descobrimos que não só não queríamos, como não estávamos prontos para isso. Pior, o que deveria nos unir, nos separou. A estabilidade foi para o brejo, junto com o que havia de melhor em mim. Meu humor mudou. Minha cabeça estava repleta de ideias loucas. Foram semanas terríveis. Intermináveis.
                Confesso que a única coisa que não passou pela minha cabeça foi o aborto. por questões religiosas. Sou kardecista, acredito em reencarnação. Então abortar estava fora de cogitação. O jeito era descobrir como incluir uma criança na vida que levo atualmente...
                Até que finalmente cedi. Mandei o universo para um lugar florido. Juntei os cacos e decidi seguir em frente. Afinal, não tenho 15 anos. A gravidez surgiu porque em algum momento eu dei uma brecha. Então, de que adiantava reclamar e rejeitar? Precisava aceitar e seguir adiante. Com os hormônios a mil e o humor do Drácula, comecei a me afastar do mundo e a mergulhar de cabeça nessa nova fase. Virei a antissocial das redes sociais e devorei blogs e mais blogs sobre gravidez.
                E, quando eu menos esperava, sofri um aborto espontâneo. Sério. Pode parecer mentira, mas não é. E eu que já tenho tendência a depressão, mergulhei fundo no sentimento de culpa. Afinal, como não me sentir culpada? Eu rejeitei a criança desde o princípio. Natural que após absorver tanta energia negativa minha ela também me rejeitasse e desistisse de nascer. Se eu tivesse aceitado tudo desde o princípio... Se eu fosse mais forte... Se eu não tivesse surtado... Mas eu surtei. Pela segunda vez, em poucos meses.
                A depressão é algo banal para alguns. Frescura para outros. Só quem passa por isso sabe o peso que ela impõe. Faço tratamento psicológico. Falo sobre tudo. O mais difícil é confrontar seus próprios medos, pensamentos, sentimentos... É descobrir o lado negro que há dentro de nós. A vantagem é que mesmo mergulhando nas trevas existe a luz. Mesmo tendo tanta coisa ruim dentro de nós também existem coisas boas.
                Aos poucos estou conseguindo me libertar. Ainda estou lutando contra a depressão. É uma batalha diária. Tenho dias bons. Outros ruins. Tem dia que preciso me isolar para não magoar os outros. Difícil fazer isso no trabalho. Exige de mim um controle absurdo. Como quem convive sabe que estou num processo lento de recuperação, acabo recebendo a compreensão e o apoio de que necessito.
                Não acho que a minha dor seja maior que a de outras pessoas. Acredito até que passei por uma experiência comum a tantas mulheres. Só que não nos cabe julgar a dor dos outros. Cada um sabe o que sente. E como certas coisas afetam nossas vidas. Não sou melhor nem pior. Sou um ser humano, que ri, chora, sofre e batalha para superar as dificuldades.
                A vida nos coloca na posição em que devemos estar. Diante de obstáculos que podemos superar. Com dores que conseguimos suportar. Difícil é ter fé e acreditar que tudo acontece para nosso bem, para nosso amadurecimento e crescimento pessoal.
                Sei que tudo o que escrevi é tolo, ingênuo, idiota, infantil... Pouco me importa. Eu precisava colocar tudo no papel. Organizar fatos, ideias, sentimentos. Me afastar do problema. Olhar e perceber o quadro maior. Descobrir o que ainda me incomoda. O que preciso mudar em mim. O que ainda falta aceitar. E me preparar para a fase seguinte do tratamento.

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